Zoologia sem imagens icónicas
A outra alimária que Natureza deu por inimiga ao elefante é o rinocerota, ou ganda, como lhes chamam os índios (...). São estes rinocerotas cobertos de conchas como de cágado ou tartaruga, das quais têm de cada banda três, separadas umas das outras, de que umas lhes cobrem as espáduas, e outras as costas, e as outras as coxas, das ancas para baixo. Vivem quase como porcos, porque se lançam na lama e em charcos, e se espojam e envolvem nela, como o eles fazem. Andam com a cabeça tão baixa que quase parece que lhes anda o focinho arrastando pelo chão; têm os olhos quase no cabo do focinho, junto das ventas, entre os quais lhes sai um corno, que dizem ter grande virtude contra a peçonha, da lonjura de palmo e meio, de cor de unha de cervo, um pouco revolto para cima, de grossura de um palmo, em redondo, e na ponta, agudo, tão duro como ferro; o qual, segundo se escreve, esta alimária aguça em pedras, quando há-de pelejar com os elefantes, a que tem natural ódio; no que têm tanta astúcia que sempre os cometem pela barriga, por naquela parte terem a pele mais fraca. Mas, se o elefante se pode guardar que se não meta o rinocerota entre as pernas, o toma com a tromba pelo pescoço e o derruba; e com os dentes o fere tanto pelas partes da pele que fica descoberta das conchas, pisando-o também com os pés e mãos, até que o mata.
Damião de Góis (1502-1574) - Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel , Parte IV Cap. XVIII
Damião de Góis (1502-1574) - Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel , Parte IV Cap. XVIII
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