Wednesday, April 25, 2007

Encerramento

É uma data simbólica para encerrar e abrir portas, inaugurar e festejar. Este é o 14.º post e tem como finalidade encerrar este Blog.
Os blogs são, alguém o disse, lugares públicos de solidão. Este foi-o sem dúvida e também um lugar académico de obrigação. Uma espécie de cibermoleskino sem elástico. Comecei com um forte entusiasmo confessado. Pensei até que fosse pouco mais do que a competência de criar um blog e reflectir do ponto de vista da Comunicação sobre o fenómeno da blogosfera. Depois comecei a sentir que era como escrever um romance sem vocação ficcionista narrativa. Mais tarde achei que não concretizava sequer o modelo matemático da comunicação; era uma espécie de extensão eléctrica ligada a si própria pela qual já nem corrente passava . E de seguida o inevitável abandono. Penso que compreendi o objectivo da sua criação: garantir um espaço personalizado para publicar reflexões pessoais acerca das matérias propostas em SRV. Na verdade tentei que fosse isso mesmo, que cumprisse esse destino: uma mistura e reflexão com um copy&paste de textos indicados ou que vieram à rede. Este é também um problema e-learning para quem se encontra isolado dos espaços científicos, das grandes bibliotecas e das boas livrarias: procurar incessantemente o pdf, o e-book, o doc ou o post que disserte sobre o assunto. Pensar na grande Rede como a fonte mágica para todas as sedes da pesquisa.
Este blog poderia ter sido também mais de que um quase-diário-de-circunstância se os dias fossem de Verão e se houvesse uma disposição crítica tão interessante como aconteceu nos fóruns. Dadas as características do plano formativo do Mestrado, da sua modalidade de ensino e do pouco espaço/tempo que se tem para fazer tanta coisa na vida, é francamente improvável responder a estímulos tão interessantes como este de manter um Blog num disciplina tão atraente como Semiótica.
Antes do mestrado, antes da universidade, antes da escola (talvez até antes de ser criança) as imagens foram para mim motivo de paixão. A Câmara Clara foi o meu romance de cabeceira, a máquina fotográfica o meu brinquedo preferido. Chegou enfim o tempo de começar a aprender a metafísica das representações visuais, a aprender a ler para lá do píxeis, a dominar a sintaxe dos subordinações gráficas.
Este pode ser o caminho que eu farei caminhando.

Saturday, February 24, 2007

Panzani


O célebre anúncio que apaixonou o autor da Câmara Clara.
Alda Pereira escreveu:
i) um signo constituído pela integração e composição, no mesmo espaço, de figuras em cores que retomam as três cores básicas do anúncio – verde, vermelho e amarelo;
este signo, de natureza plástica, reenviava, no contexto cultural dos destinatários do anúncio, à ideia de italianidade;
ii) um signo, também de natureza plástica, constituída pela
composição compacta de objectos diferentes, a qual transmite a ideia de um serviço culinário completo, ou seja, os produtos da marca publicitada continham tudo o que era necessário a
um prato completo;
iii) um último signo, correspondente à composição global de todos os objectos, reenviando a um significado estético relacionado com a ideia de natureza morta.
Finalmente, a etiqueta, com um signo linguístico, denotando o nome da marca, e cujo significado indica publicidade. Ou, adoptando os termos peircianos, a etiqueta remetia indexicalmente para a significação de publicidade. Estes vários signos abrem a imagem para uma outra mensagem, além da literal, que Barthes (op. cit) tomou como uma mensagem segunda, de natureza simbólica, cultural e que remeteria para a ideia de frescura, de produtos naturais, de marca de origem (italianidade), de alimento completo que estaria na base da massa da marca publicitada. Tudo se passa como se o signo visual dê origem, numa primeira interpretação, a um significado denotado. Este significado, por sua vez, torna-se num significante de um significado segundo, que o autor considerou uma conotação. Ou seja, o interpretante da imagem torna-se um representamen que dá origem a outro interpretante, para usar os conceitos peircianos.

DKNY 1

No documento GRAMÁTICA DA MENSAGEM VISUAL, Alda Pereira reproduz este cartaz publicitário da marca DKNY.





O que vemos? Ao centro da imagem um relógio num pulso másculo. Um rosto de um americano solitário, (cliché das campanhas da Camel e Marlboro). Uma paisagem hollywoodesca com uma longa estrada ao centro que nos conduz às montanhas (a lembrar a Route 46 onde James Dean se tornou um mito eterno).Temos portanto elementos que reforçam o cunho fortemente americano que a marca DKNY nos tem habituado.

Uma pesquisa mais apurada elucidou-me. Trata-se de um cartaz construído a partir de um outdoor cinematográfico iserido na campanha de 2004 da marca: Road Stories. Vejamos:

Este cartaz confirma as suspeitas: a paisagem mantém-se,
não há relógio e o actor é fotografado noutro ângulo. Toda a estética da campanha remete para o cinema: fotografia de grande formato e texto informativo com o elenco e equipa técnica em baixo centrado. Road Stories é o nome do filme e da campanha vejamos um pouco de uma das curtas metragens que a compõem.

http://www.youtube.com/watch?v=Ly-Pg7GYa3E

Road Stories é sobre duas mulheres que que viajam de Nova Iorque até Los Angeles. Uma é jornalista a outra uma atriz/fotógrafa. Uma espécie de American motel culture vai percorrendo todo o filme, marcada por momentos de forte sensualidade. O objectivo é apresentar quase subliminarmente a colecção de roupa e de acessórios, envolvendo o consumidor através do discurso fílmico.




Wednesday, February 21, 2007

D'après Groupe µ

Este diagrama procura representar o fenómeno de descodificação visual defendido pelo grupo do Traité Du Signe Visuel
Fonte: http://www.comu.ucl.ac.be/reco/grems/jpweb/peraya/voir3.pdf
Um ícone possui algumas propriedades do objecto representado: um desenho da minha casa faz-me lembrá-la porque mantém alguns dos seus traços. Mas o que realmente significa manter as mesmas propriedades? Umberto Eco defendeu a tese segundo a qual a comunicação se estabelece não pela relação entre o código e a mensagem mas pelos mesmos mecanismos da percepção dos signos: “Se o signo icónico tem propriedades comuns com algo, não será com o objecto, mas com o modelo perceptivo do objecto; por outras palavras, Eco defende que o ícone é um modelo perceptivo do objecto.

É com base no que foi dito que o Grupo µ fundamenta o seu Tratado do Signo Visual. Para os autores, o sistema visual produziria em cada um dos seus três modos fundamentais: forma, textura e cor estruturas de percepção elementares, integrando e organizando os estímulos de estruturas especializadas: extractores de motivos, de direcções, de contrastes, etc.

Obtem-se assim a produção de figuras (nível 1) de formas (nível 2) e finalmente de objectos (nível 3). As figuras nascem de um processo de equilíbrio entre as zonas de células visuais estimuladas. Para este primeiro nível, surgem as noções de campo, de limite, de linha, de contorno, etc. O nosso sistema perceptivo, ao produzir as diferenças, cria as condições de constituição do sentido. No segundo nível as formas fazem intervir a comparação entre várias ocorrências sucessivos de uma imagem, mobilizando assim a memória. ( a continuar no próximo post...)

Sunday, January 28, 2007

Significante e significado


"Eu estou na barbearia, dão-me um número de Paris-Match. Na capa, um jovem negro vestido com um uniforme francês faz a saudação militar, com os olhos erguidos, fixados certamente numa prega da bandeira tricolor. Esse é o sentido da imagem. Mas, quer eu seja ou não ingénuo, vejo bem o que ela me significa: que a França é um vasto Império, que todos os seus filhos, sem distinção de cor, servem fielmente sob a sua bandeira, e que não há melhor resposta aos detractores de um pretenso colonialismo do que o zelo deste negro em servir os seus pretensos opressores. Encontro-me pois, ainda aqui, perante um sistema semiológico privilegiado (um soldado negro faz a saudação militar francesa); há um significado (que é aqui uma mistura intencional de francesismo e de militarismo); e há, enfim, uma presença do significado através do significante." (Barthes, 1957/1988: 187)

Experiência perceptiva

"A propósito da imagem de um copo de cerveja num anúncio publicitário, Eco conclui que o que dá origem à significação extraída tem sobretudo a ver com os elementos recordados a partir de uma experiência perceptiva anterior. Ou seja, aideia de frescura que a imagem provoca tem origem, fundamentalmente, num conjunto deexperiências sensoriais passadas que, no acto semiótico, dão origem a um dado significado". Alda Pereira O SIGNO ICÓNICO. ICONICIDADE E INDEXALIDADE.

O que verá primeiro uma criança nesta garrafa? Os golfinhos ou dois amantes?

Thursday, January 18, 2007

Os ecos de Eco



«Diagramas» são signos que representam relações abstractas, tais como fórmulas lógicas, químicas e algébricas; os emblemas, figuras a que associamos conceitos (ex: cruz -» cristianismo); os desenhos, correspondentes aos ícones e as inferências naturais, os índices ou indícios de Peirce, as equivalências arbitrárias, símbolos em Pierce e, por fim, os sinais, como por exemplo o código da estrada, que sendo indícios, se baseiam num código ao qual estão associados um conjunto de conceitos.

Tuesday, January 16, 2007

Peirce dixit

Monday, January 15, 2007

Zoologia sem imagens icónicas

A outra alimária que Natureza deu por inimiga ao elefan­te é o rinocerota, ou ganda, como lhes chamam os índios (...). São estes rinocerotas cobertos de conchas como de cá­gado ou tartaruga, das quais têm de cada banda três, separa­das umas das outras, de que umas lhes cobrem as espáduas, e outras as costas, e as outras as coxas, das ancas para baixo. Vivem quase como porcos, porque se lançam na lama e em charcos, e se espojam e envolvem nela, como o eles fazem. Andam com a cabeça tão baixa que quase parece que lhes anda o focinho arrastando pelo chão; têm os olhos quase no cabo do focinho, junto das ventas, entre os quais lhes sai um corno, que dizem ter grande virtude contra a peçonha, da lonjura de palmo e meio, de cor de unha de cervo, um pouco revolto para cima, de grossura de um palmo, em redondo, e na ponta, agudo, tão duro como ferro; o qual, segundo se es­creve, esta alimária aguça em pedras, quando há-de pelejar com os elefantes, a que tem natural ódio; no que têm tanta astúcia que sempre os cometem pela barriga, por naquela parte terem a pele mais fraca. Mas, se o elefante se pode guardar que se não meta o rinocerota entre as pernas, o to­ma com a tromba pelo pescoço e o derruba; e com os dentes o fere tanto pelas partes da pele que fica descoberta das con­chas, pisando-o também com os pés e mãos, até que o mata.

Damião de Góis (1502-1574) - Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel , Parte IV Cap. XVIII

Sunday, January 14, 2007

As Palavras e as Imagens, 1928

Para Magritte, palavras e imagens são equivalentes. O pintor surrealista procurava saber se as palavras representam verdadeiramente aquilo que se pensa na linguagem corrente. Tanto na Chave dos Sonhos de 1927 como na de 1930, palavras e imagens desafiam a lógica. O que interesssa não é o que o quadro mostra, mas o que sugere.

Saturday, January 13, 2007

Ilustração do invisível


Numa Time Magazine (2001) pode ler-se na recensão a The Universe in a Nutshell de Stephen Hawking: "Provocante e erudito [...] Um livro cheio de analogias inteligíveis e de humor, sobretudo às custas do próprio autor [...] e o melhor de tudo são as muitas ilustrações: bem concebidas, belissimamente reproduzidas, frequentemente excêntricas."

São estas imagens construtoras de uma realidade invisível? O físico teórico recorre às matrioskas para representar a compreensão teórica da natureza a uma determinada escala de distâncias: da Física clássica a Plank.

As imagens literárias

Nesta manhã de sol preguiçoso, encontrei no glossário dos termos literários organizado pelo prof. Carlos Ceia o seguinte verbete:
Eugénio de Andrade no poema seguinte, onde predominam imagens de identificação simbólica entre o sujeito e as amoras: “O meu país sabe as amoras bravas / no verão. / Ninguém ignora que não é grande, / nem inteligente, nem elegante o meu país, / mas tem esta voz doce / de quem acorda cedo para cantar nas silvas. / Raramente falei do meu país, talvez / nem goste dele, mas quando um amigo / me traz amoras bravas / os seus muros parecem-me brancos, / reparo que também no meu país o céu é azul” (“As amoras”, in O Outro Nome da Terra, 1988). O efeito imagista não se dá por correspondências analógicas directas (amoras = sabedoria, lentidão e maturidade no crescimento, ou outras simbologias tradicionais), mas por subtilezas de significado que obrigam o leitor a um complexo processo de interpretação: um País imagina-se “azul” porque a sugestão do trabalho de colheita das amoras bravas é um ritual de comunhão com entre o apanhador e aquilo que a natureza lhe oferece. A imagem construída por Eugénio de Andrade também pode ser interpretada em termos exclusivamente políticos (as amoras bravas são, por exemplo, a imagem de um país que não se domina a si próprio). Uma imagem pode ser, portanto, algo mais do que uma simples representação mental, visual ou fantástica; uma imagem construir-se-á também de acordo com uma visão cultural e política do mundo.

Metáfora, comparação e imagem convergem para representações...(?)

Friday, January 12, 2007

Isto não é um diálogo.

Platão - O artista é um mero produtor de imagens falsas que não passam de imitação das Ideias. Devia ser expulso da Cidade bela, porque as imagens que cria não nos conduzem ao inteligível.

Magritte - Alguém consegue fumar pelos meus cachimbos? Seria mentiroso se tivesse escrito no meu quadro "isto é um cachimbo".

Wednesday, January 10, 2007

Invocação


De Platão invoco as palavras precisas, a reflexão filosófica, as tensões académicas e as imagens que o seu nome grego traduz: amplitude, dimensão, largura.
De Magritte chamo as metáforas pictóricas, a não-pintura, os símbolos, a traição das imagens.